100 folhas arrancadas do diário de uma suícida.
1º dia: Sinto que algumas coisas mudaram de um tempo pra cá. Pra pior, é claro. Nada de bom tem acontecido pra mim. As coisas se revoltaram numa intensidade incrível, ou foi eu quem me revoltei? Não sei, mas preciso que as coisas se resolvam, ou eu as resolvo na marra.
8º dia: Nada mudou. Tudo continua um saco, uma tremenda merda de vida. Já não aguento mais as pessoas indo embora como se não fosse deixar magóas. Eu sou seca, ignorante, ás vezes de pedra; mas eu tenho um coração. Que ama … mas ninguém se importa.
13º dia: Cadê aquelas pessoas que diriam que estariam ao meu lado quando eu precisasse delas? Evaporaram! É sempre assim, quando precisamos das pessoas elas somem, mas quando elas precisam de nós estamos aqui. Enfim, hoje peguei uma garrafa da bebida mais forte que tinha no armário… Espero que meu pai não sinta falta.
20º dia: A uma semana tomei meu primeiro gole de bebida alcólica, e não consigo mais parar. Cada dia que se passa some mais uma garrafa, é mais forte que eu. As pessoas me abandonaram, e eu achei companhias melhores ou não. Só sei que sinto falta dessas pessoas, mas será que elas sentem a minha? Acho que não.
25º dia: Desde que comecei a escrever nesse diário, minha vida tem sido uma destruição total. 25 dias de um porre de vida. A tempos não saio de casa, meus olhos vivem inchados e o bafo de alcóol empreguinou-se na minha boca. Cada dia é um terror, casa dia é um tapa na cara; é a vida dizendo ‘ninguém liga, idiota’. Foda-se, agora eu também não ligo.
32º dia: Hoje eu conheci as tão famos giletes, meus braços ficaram uma obra de arte cheios de cortes. Escorria sangue para todos os lados. Aliviou… A dor sentimental passou para a física, por um estante isso foi bom, mas depois não adiantou em nada. Mesmo assim continuei fazendo os cortes.
39º dia: Hoje eu conheci as drogas. É a coisa mais sinistra que já conheci, não tem nada melhor do que sentir a adrenalina entrando em seu corpo. Me fez esquecer meus problemas por uns tempos.Agora consigo entender porque existem tantas pessoas usando isso, ela te faz sentir fora do normal. Te faz viajar sem nem sair do lugar … Finalmente, outra companhia.
47º dia: 34 dias bebendo, 15 dias de cortes, 8 dias de adrenalina.Cada dia que passa fico mais fraca, mais magra, mais morta. Já não tenho amigos e os meus pais acham que estou ficando louca, talvez esteja mesmo. Porém não posso dizer que me sinto feliz. Eu estou morrendo aos poucos.
52º dia: Estou me afudando cada vez mais nesse poço, eu não consigo vê uma luz no fim do túnel. Estou perdida, e não há ninguém pra me ajudar. Sou uma viciada em alcóol, drogas e cortes; que vida cruel é essa. A gente pensa que vai crescer feliz, e no final só se fode. É, essa é a palavra mesmo, sem sensuras. Se foder, uma hora ou outro.
58º dia: Estou morrendo lentamente. Não sinto mais vontade de me levantar da cama, meu quarto está uma bagunça, minha vida também. Merda, merda, merda. Á dias penso em suícidio, mas como fazer isso sem machucar meus pais? Por mais que eu seja ruim, no fundo eles me amam. Preciso acabar logo com essa dor dentro de mim.
64º dia: Ensaio a 5 dias uma carta para deixar a minha mãe e ao meu pai quando eu partir. Eu nunca havia pensado nisso antes e confesso que estou nervosa demais. Mas ficar aqui já não adianta. Já não é mais suportável. Eu sinto muito por mim mesma.
70º dia: Depois de algumas semanas meus pais resolveram falar comigo, se assustaram com minha aparência. Falaram que eu era um caso perdido, que eles não se importavam mais. Isso doeu. Mal eles sabem que daqui alguns dias eu não vou mais estar aqui.
78º dia: Hoje fui na fármacia e comprei alguns remédios fortes. Não sei como vai ser o meu fim, mas garanto que está perto. Comprei uma folha decorada, uma caneta especial, uma bebiba, alguns cigarros … e giletes novas. A folha e a caneta são para escrever o bilhete, e o resto é para me sentir bem antes de ir.
85º dia: Hoje olhei no armário a melhor roupa que eu tinha, e separei. Morrer é simples, diferente de viver, que é difícil. Morrer é só mais uma passagem do pior para o melhor. Acredito nisso. Acredito que quando não se aguenta mais viver, o melhor mesmo é morrer. E eu não aguento mais a vida que tenho.
91º dia: “Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.” Só isso que tenho a dizer hoje.
98º dia: Finalmente criei coragem para partir. Daqui a 2 dias vou de encontro ao Céu, é o que desejo. Que Deus perdoe todos os meus pecados, que meus pais entendam, e que meus amigos sintam minha falta.
100º dia: Chegou o grande dia da minha tão esperada partida. Estou vestida no meu melhor vestido preto, com uma maquiagem forte. Fumando o melhor e mais caro cigarro, bebendo do melhor whisky e com os braços ardidos. Tomei os remédios que comprei a uns dias atrás. Adeus meu querido diário.
No dia seguinta a garota é encontrada morta com o bilhete ao lado do corpo.
” Sorria mamãe, sorria papai; fechei os olhos para sempre agora. As suas e as minha dores acabaram. Rezem pela minha alma meus amores e peço-lhes com muito carinho, não me mate dentro de vocês. Sejam felizes no meu lugar, sorriam ao lembrar de mim e não esqueçam nunca: eu amo vocês.”